João Neutzling Jr

Aumentam os bilionários e também aumenta a pobreza

João Neutzling Jr
Economista, bacharel em Direito, Mestre em Educação, Auditor estadual, Professor e pesquisador.
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A Oxfam é uma organização não governamental fundada em Oxford na Inglaterra, em 1942, originalmente como o nome de Oxford Committee for FamineReliefe ou Comitê de Oxford para o Alívio da Fome.
No último relatório da Oxfam foi informado que a concentração de renda se agravou em escala global. Conforme o relatório, o 1% mais rico do mundo ficou com quase 2/3 de toda riqueza gerada desde 2020 (quase US$ 42 trilhões) ou seis vezes mais o que 90% da população global (7 bilhões de pessoas) conseguiu no mesmo período.
Por outro lado, um terço da humanidade vive com menos de US$ 1,00/ao dia.

Os bilionários hoje têm mais riqueza líquida que 60% da população mundial. Hoje seriam quase 2.700 bilionários no mundo, com fortuna total de 13 trilhões.

Por que isso ocorre? Uma das causas é a mobilidade do capital em busca de menor pagamento de salário e imposto para maximizar o lucro. Outra razão é a existência de paraísos fiscais onde os bilionários conseguem reduzir o pagamento de impostos.

Em 2017 a Tax Justice Network divulgou que havia cerca de US$ 30 trilhões em paraísos fiscais.
Ademais, pela teoria do ciclo-produto de Raymond Vernon (1960), os países mais avançados, detentores de tecnologia de ponta, desenvolvem novos produtos/serviços que depois de serem padronizados passam a ser produzidos em larga escala em países com menor custo de mão-de-obra.

A Nike, por exemplo, fabricante de material esportivo americana, teve em 2022 lucro de seis bilhões de dólares através de suas unidades espalhadas mundo afora com quase 900 mil empregados. A Nike não tem nenhuma fábrica nos EUA, só na China são 195 fábricas. O mesmo com a Hewlett-Packard, Apple, entre outras.

O salário médio de um operário nos EUA é 15 dólares/hora enquanto na China é 3,60 dólares/hora. Logo ocorre aumento da taxa de mais-valia (diferença entre a renda criada pelo trabalho e a remuneração efetiva do trabalhador) que é apropriada pelo capitalista.

Em Bangladesch, cerca de quatro milhões de pessoas trabalham na confecção de roupas para o mercado externo, de acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC). Produzem roupas de grife, mas com salário inferior a US$ 3 por dia. O mesmo ocorre na Índia.

A instalação das filiais industriais em uma série de países periféricos beneficia a estratégia das transnacionais de realocar segmentos de seus processos produtivos para recorrer ao uso intensivo da mão de obra com custo salarial menor do que nos países industrializados.

Outro exemplo desta natureza são as indústrias maquiladoras que operam no México na fronteira com os EUA.
Essas firmas são beneficiadas por cargas tarifárias quase nulas, normas ambientais frágeis, custo trabalhista mínimo, etc. O salário do operário mexicano é muito menor que o concorrente americano. A taxa de pobreza no México é de 30% da população hoje.

O modelo capitalista liberal vigente é concentrador de renda. Permite-se a livre mobilidade do capital financeiro, mas se restringe a livre circulação de mão-de-obra que constantemente é deportada de volta ao país de origem.
Uma das alternativas é a cobrança de imposto sobre grandes fortunas em escala global e imposto sobre lucros extraordinários.

Difícil é convencer os bilionários a pagar mais imposto e aprovar leis internacionais neste sentido para reduzir a concentração de renda e democratizar a riqueza no planeta.

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